Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso
ÁFRICA OCIDENTAL
Na África ocidental, o sal e a comida dominavam o comércio no deserto de Sahara (sahr, em árabe significa deserto), e incluía também ouro, marfim, penas de avestruz, casco de tartaruga e peles. Quando os árabes chegaram à África, o comércio aumentou por causa do camelo. Os camelos eram vitais porque eles podiam viajar mais de 100 km por dia, isto é, duas vezes mais do que os bois de carga ou os cavalos, e também podiam resistir ao calor do dia e ao frio da noite. Os bérberes estavam envolvidos no comércio de longa distância. Os comerciantes árabes compravam o ouro da antiga Gana - a terra do ouro, e financiavam as caravanas bérberes. Desta forma, o Islam se espalhou muito rapidamente e as transações comerciais ficaram bem mais fáceis. A expansão do comércio muçulmano pelo deserto depois de 750 d.C, deu um novo e maior incremento à região.
Em 1067, o cronista andaluzo al-Bakri, escrevendo na então famosa cidade andaluza de Córdoba, no sul da Espanha, mas passando as primeiras informações sobre os viajantes e comerciantes trans-saarianos, descreveu Gana como um estado grande e poderoso. Ao escrever sobre a corte do rei normando, Roger II da Sicília, al-Idrisi relatou como os governantes de Gana passavam o tempo, recepcionando com os mais pródigos banquetes que alguém jamais tinha visto antes.
No entanto, foi o Mali, na África ocidental, que chamou a atenção para o mundo muçulmano, por causa de seu governante, Mansa Musa, irmão de Abu Bukhari (famoso por ter enviado milhares de navios cargueiros para as Américas em 1330), com sua famosa peregrinação a Meca, em 1324-1325, chegando ao Cairo com uma enorme caravana que incluía 100 camelos carregados de ouro. Musa demonstrou sua generosidade distribuindo grandes quantidade de ouro no Egito, abalando, assim, a moeda local. Este fato criou o mito europeu da África ocidental como um lugar de imensas riquezas, onde até os escravos vestiam ouro. Ao completar o Atlas Mundial em 1375, o cartógrafo Cresques, de Maiorca, mostrava o rei do Mali sentado num trono, segurando um globo (uma imensa pepita de ouro) e o cetro, no centro da África ocidental, enquanto os comerciantes de toda a África do Norte marcham vigorosamente para seus mercados. O ouro transformou-se no produto básico de exportação para a Europa, sendo que pelo menos 2/3 do suprimento mundial de ouro vinha da África ocidental. Monarcas dos mais distantes países, como a Inglaterra, cunhavam suas moedas com o precioso metal africano.
Mansa Musa incentivou o desenvolvimento do ensino e da expansão do Islam. Nos primeiros anos de seu reinado, Musa enviou sábios sudaneses para a universidade marroquina de Fez. No final de seu reinado, esses sábios fundaram seus próprios centros de ensino e de estudo alcorânico, principalmente em Timbuktu, que mais tarde transformou-se em um importante centro para os comerciantes e estudiosos muçulmanos, tanto sudaneses como bérberes.
Menos de 20 anos depois da morte de Musa, o viajante bérbere, Ibn Batuta, depois de trinta anos de observação acurada, ainda viajava incansavelmente para cima e para baixo pelo mundo muçulmano, esteve no Mali. Escreveu: "Os negros possuem algumas qualidades admiráveis. Raras vezes são injustos e têm mais horror à injustiça do qualquer outro povo ... Há uma segurança total neste país. Nem o viajante nem o seu habitante temem ladrões ou homens violentos." (E.W.Bovill, 'The Golden Trade of the Moors)
Timbuktu alcançou o seu auge em fama e fortuna no século XVI. Falando para uma platéia italiana, no início do século XVI, Leo Africanus descreveu Timbuktu como a cidade do ensino e das letras, onde o rei, além de dispor de um exército de 3000 cavaleiros e uma infantaria enorme, financiava de seu próprio tesouro "muitos magistrados, doutores e religiosos". "Aqui em Timbuktu", assinalou ele, "existe um grande mercado de livros dos países bérberes e ganham muito mais com a venda dos livros do que com qualquer outra mercadoria.". A reputação de suas escolas de teologia e direito espalhou-se até a Ásia muçulmana. Esta época do Mali, seria mais tarde lembrada como a idade de ouro da prosperidade e da paz.
No final dos Anos Negros, com a Europa ocidental em crise,
começaram a surgir pequenos reinos no Sudão ocidental e central. Inúmeros reis
africanos, entre eles Mansa Musa e Sonni Ali, gozavam de fama no Islam e na cristandade,
por causa de sua riqueza, brilhantismo e conquistas artísticas para seus vassalos. Suas
capitais eram grandes cidades muradas, com muitas mesquitas e, pelo menos duas, Timbuktu e
Jenne, tinham universidades que atraíam estudiosos e poetas de muito longe. Seu poder
vinha de uma combinação de força militar e alianças diplomáticas com os líderes
locais; seus juízes praticavam a justiça; seus burocratas administravam os impostos e
controlavam o comércio, a viga mestre daqueles estados.
A meta dos portugueses era transformar seu pequeno estado europeu em um vasto império
afro-indiano. A presença dos portugueses na África ocidental e central objetivava nada
menos do que construir um império na África, desde o ocidente até o oriente - do oceano
Atlântico até o oceano Índico - uma grande rota que cruzasse o continente e que
serviria diretamente como um caminho imperial que se conectasse com o império indiano. O
império afro-indiano era o grande projeto de Portugal. A corte de Lisboa tinha planejado
bem. Para um estado tão pequeno como Portugal, uma ambição maior do que o continente
europeu. E, então, ousando o suficiente para operacionalizar o plano, isto obrigou a um
grau de organização e coragem que possibilitou a muitos pequenos grupos de homens
seguirem adiante, conquistando e dominando.
Portugal esperava que, ganhando acesso direto às regiões produtoras de ouro da África
ocidental, o metal iria se transformar em sua maior fonte de riqueza nacional. Uma vez
conquistado o acesso à África ocidental, a riqueza financiaria as explorações até a
ponta da África, e dali até a Índia. Finalmente, ao alcançar a Índia, via sul, os
portugueses desviariam as rotas comerciais da Ásia ocidental, controladas pelos
muçulmanos. Sob as ordens do Vaticano, os portugueses navegaram ao longo da costa da
África ocidental, ocupando inúmeros portos. Os primeiros portugueses não eram
comerciantes ou aventureiros particulares, e sim oficiais com a missão real de conquistar
o território e promover a divulgação do cristianismo.
Em 1434, Gil Eanes ousou navegar além do mar onde o oceano Atlântico supostamente terminava e os navios lançavam-se ao vazio, e em 1488, os portugueses chegaram à desembocadura do grande rio Congo na África ocidental. Primeiro chegaram à costa africana ocidental em 1470. Ali construíram um forte chamado Elmina (a mina) para proteger seu entreposto comercial dos navios europeus rivais. Pelo tratado de Alcacovas, a Espanha reconheceu o direito de Portugal explorar a costa africana e o Papa concedeu indulgências àqueles que tivessem tomado parte na construção de Elmina. São Jorge da Mina, seu nome completo, personifica a natureza religiosa e comercial dos europeus do século XV.
Em 1497,Vasco da Gama partiu de Lisboa, em Portugal. Os
portugueses que viajavam com ele eram homens do Renascimento católico e seus sucessores
estavam sob a influência da Contra-Reforma. A cultura e a religião para eles eram tão
misturadas, que não era possível dizer onde o católico terminava e o Renascimento
português começava. Ao contrário das primeiras expedições portuguesas, Vasco da Gama
continuou a navegar, descendo a costa ocidental da África, contornou a ponta sul da
África, continuando ao longo da costa oriental africana. Com a ajuda de um navegador
árabe, emprestado do Malindi, atual Quênia, Vasco da Gama entrou no oceano Índico.
Basicamente os portugueses esperavam que, ao entrar no oceano Índico, a partir do sul,
eles pudessem afastar os muçulmanos, que dominavam o norte da África e o Mediterrâneo.
Os portugueses queriam tirar dos muçulmanos o controle do comércio de especiarias, sedas
e outros produtos da Índia e da China, trazê-los para a Europa ocidental em navios e
vendê-los com um lucro considerável. Afinal de contas, os portugueses também sabiam que
os mercadores egípcios tinham ficado ricos com o comércio entre o Mediterrâneo e o
oceano Índico, onde os egípcios cunhavam suas próprias moedas de ouro e o dinar
fatimida tinha se tornado a unidade básica de troca internacional nas cidades do
Swahili, na costa oriental africana.
Onze meses após iniciar a viagem, Vasco da Gama chegou à
cidade de Calicute, no dia 20 de maio de 1498. De início, ele encontrou hostilidade por
parte dos mouros, árabes e africanos, mas ao que tudo indica, ele conquistou a simpatia
do rajá hindu do Malabar. Vasco da Gama disse aos primeiros hindus que encontrou na costa
do Malabar que ele tinha vindo buscar "cristãos e especiarias". Os cristãos
que ele tinha em mente eram um povo legendário, que devia ser resgatado do cerco
muçulmano e que tinha ajudado a ele em sua cruzada. Provavelmente eles eram os vassalos
do misterioso Prester John e eram na verdade os abissínios, a quem Vasco da Gama nunca
encontrou. Os cristãos que ele encontrou eram os "sírios" do Travancore,
provavelmente residentes ali desde o século IV a.C., e desconhecidos na Europa.
Vasco da Gama retornou com uma mensagem do rajá hindu, que dizia: "Vasco da Gama, um
nobre de sua corte, visitou meu reino e me deu grande prazer. Em meu reino existe muito
cravo, canela, gengibre, pimenta e pedras preciosas. O que quero de seu país é ouro,
prata, coral e escarlate."
Uma segunda expedição, que consistia de 20 navios e 200 soldados, sob o comando de Cabral, foi mandada para lá em 1500. Suas instruções eram no sentido de começar com a pregação e se fracassasse, continuasse com a firme determinação da espada. Ao alcançar Calicute (depois de estar na costa do Brasil, primeiro) Cabral criou fábricas, tendo em vista a hostilidade dos nativos. Em 1502, o rei de Portugal obteve do papa Alexandre VI uma bula papal indicando-o " senhor da navegação, conquista e comércio da Etiópia, Arábia, Pérsia e Índia". Naquele ano, Vasco da Gama viajou de novo para o oriente, com uma frota composta de 20 navios. Começava, então, a Cruzada, a cristianização, a conquista e o "comércio" da África oriental e da Índia.