Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso
Al-Walid I
Al-Walid sucedeu seu pai, Abdul Malik, no califado. Abdul Malik, com firmeza e decisão, havia unificado os vários elementos díspares do mundo muçulmano, mas é a al-Walid que se deve o mais espetacular acontecimento do início do Islam - a conquista do Magrebe e da Espanha. Hasan ibn al-Naaman, que tinha pacificado a Ifriqiya (África) e reprimido os bérberes, tinha sido substituído por Musa ibn Nusayr no governo da África. Musa era um homem de visão e ambicioso. Um pouco antes, ele havia conquistado o Magrebe e era devidamente enaltecido pelo Califa. Agora ele era vice-rei de todo o território a oeste do Egito, o que era uma grande honra. Musa tinha um general talentoso, chamado Tareq, que era um liberto. Ele foi indicado para governador da parte oriental do Magrebe, na região que hoje corresponde ao norte do Marrocos. A capital era Tânger. Certo dia, chegou até ele um nobre espanhol, Conde Julian, um descontente com o rei de Espanha.
Em 711 d.C, Tareq navegou pelos estreitos com 7.000 homens e desembarcou ao pé de uma imensa rocha, que veio a ter seu nome, Jabal-i-Tariq, ou o monte de Tareq, e que mais tarde foi europeizado para Gibraltar. Percebendo que seus soldados e cavaleiros estavam com receio da aventura, ele usou um estratagema. Dividiu sua frota em duas . Escondeu metade dos barcos atrás do promontório e deu ordens secretas para que a outra metade ateasse fogo. Quando as chamas subiram seu acampamento ficou em alvoroço e os sentinelas correram até onde ele estava. Muitos dos homens torceram as mãos em desespero. Alguns poucos estavam bastante perturbados e lhe perguntaram o que fazer. Tareq respondeu que fizessem alguma coisa e eles de novo perguntaram.: "Mas, se tivermos que voltar? Suponha que sejamos derrotados?" E Tareq espondeu: "Mas quem fala em derrota? Não há necessidade de voltar. Esta terra pertence a Allah e, portanto, pertence a vocês também. Vão. Lutem pela glória de Allah e por um lar para suas crianças. Uma vez que não há a possibilidade de recuo lutem como se fossem 70.000 homens ao invés de 7.000. Já derrotamos o inimigo antes. Faremos o mesmo agora. Confiem em Allah. Marchem adiante meus jovens heróis!"
Nenhuma palavra foi dita a Musa sobre o que Tareq havia feito. Mas Musa, o grande vice-rei, invejou seu próprio general. Talvez não tivesse gostado que um ex-escravo, mas brilhante, tivesse alcançado o que nenhum de seus próprios filhos tinham conseguido. Em todo o caso, ele avançou com um grande exército. Mas, antes que pudesse juntar suas forças às de Tareq, o jovem general se defrontou com as forças espanholas comandadas pelo rei, que tendo usurpado o trono, agora se enchia de coragem para lutar contra os muçulmanos invasores. Mas Tareq impôs uma derrota aos espanhóis em 711 d.C. Musa chegou com seus árabes em 712, quando a maior parte da Espanha central já havia sido conquistada por Tareq. Musa, no entanto, conquistou o resto da Espanha. Ocupou Medina, Sidônia, Sevilha e Mérida. Dizem que ele reprovou publicamente Tareq por não ter respeitado suas ordens, mas a glória já pertencia a Tareq, cujo nome até hoje é um famoso entre os muçulmanos.
Nesse meio tempo, alguma coisa estranha estava acontecendo em Damasco. Ao invés de aplaudir as grandes conquistas de Musa e Tareq, os cortesãos começaram a envenenar a mente do Califa al-Walid contra Musa. Diziam que ninguém podia ser tão poderoso. Diziam que a Espanha estava muito longe e sugeriram que Musa deveria ser um louco se não proclamasse sua independência. Um homem inteligente teria percebido toda a inveja nessa conversa, mas al-Walid era desconfiado por natureza e começou a prestar atenção nos comentários maldosos. Mandou chamar Musa que atendeu ao chamado, deixando em seu lugar, como vice-rei, seu filho Abdul Aziz. Quando Musa chegou a Damasco, ele se apresentou ao Califa à frente de uma longo cortejo. Trazia príncipes cativos, chefes e nobres e milhares de escravos carregando presentes em ouro, ornamentos, jóias e centenas de objetos preciosos. O Califa ficou tão impressionado que aceitou os presentes e recebeu Musa cortesmente. Mas, em seguida, ele ficou doente e seu irmão Suleiman, que se tornou o regente, provou ser um traidor. Retirou o cargo de Musa, confiscou seus bens e o baniu de sua corte. Musa foi para uma cidadezinha onde morreu na pobreza. O novo califa mandou matar também o filho de Musa, Abdul Aziz. Essa morte foi uma advertência para os generais muçulmanos em todo o mundo. Eles achavam que se os governantes muçulmanos eram tão despóticos e ingratos com os próprios muçulmanos, não seria deslealdade salvaguardar seus próprios interesses. Não surpreende que, na época dos abássidas, que vieram depois dos omíadas, tenha-se tornado comum que generais ou governantes cuidassem de si e que, quando a oportunidade se apresentava, estabeleciam governos independentes, ainda que sob a "proteção" nominal do califa abássida.
Al-Walid como governante, mandou muitas expedições às províncias da Ásia Menor. Ele foi um soberano generoso e ficou famoso pelos belos prédios, escolas e hospitais que construiu. Foi generoso com os pobres. Reforçou a justiça e o respeito pela lei. Estimulou as artes e a poesia árabe floresceu de novo em seu reino. Os omíadas começaram a construir vilas na fronteira sul do deserto, para onde se retiravam quando queriam descansar e para onde enviavam seus filhos para serem treinados e educados longe da atmosfera da corte e das cidades. A Síria o considerava o governante ideal e ele deve ser tido com um dos grandes da dinastia omíada.
"A Short History of Islam" - S.F.
Mahmud