intro.gif (2169 bytes)

Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

 

or_bar.gif (1182 bytes)

 

A Conquista Árabe do Egito, em 642 d.C

 

A história dos patriarcas de Alexandria-Relatos de Al-Baladhuri

 

E naqueles dias, Heráclio teve um sonho no qual era dito a ele: "Em verdade, chegará a você uma nação de circuncisados e eles o vencerão e tomarão posse de suas terras". Heráclio pensou que se tratasse dos judeus e, por conseguinte, deu ordens para que  judeus e samaritanos fossem batizados em todas as suas províncias. Mas, alguns dias depois, apareceu um homem árabe, dos distritos do sul, isto é, de Meca, ou vizinhanças, cujo nome era Mohammad; e ele havia reconduzido os adoradores de ídolos para o conhecimento de um Deus único, e mandou que eles declarassem que Mohammad era seu apóstolo; e sua nação era circuncisada, e rezava na direção sul, voltando-se para um lugar que eles chamavam de Ca'aba. E eles se apossaram de Damasco e Síria, cruzaram o Jordão e o represaram. E o Senhor abandonou o exército dos romanos como uma punição por terem corrompido a fé e por causa dos anátemas proferidos contra eles pelos antigos padres, por conta do concílio de Calcedônia.

Quando Heráclio viu isso, reuniu todas as suas tropas, do Egito até às fronteiras de Aswan. E continuou a pagar aos muçulmanos, por três anos, as taxas que eles tinham pedido; e eles costumavam chamar a taxa de bakt, isto  quer dizer que era uma importância obrigatória por cabeça. E assim continuou até que Heráclio tivesse pago aos muçulmanos a maior parte de seu dinheiro e muitas pessoas tivessem morrido devido aos problemas que eles tinham suportado.

Assim, quando dez anos tinham-se passado do governo de Heráclio junto com o Colchian, que buscava pelo patriarca Benjamin, enquanto fugia dele de lugar em lugar, escondendo-se em igrejas fortificadas, o príncipe dos muçulmanos enviou um exército ao Egito, sob o comando de um de seus mais fiéis companheiros de nome 'Amr ibn Al-Asi, no ano diocleciano de 357. E este exército do Islam chegou ao Egito com grande força, no 12º dia de Baunah, que é o 6º do mês de junho, de acordo com os meses dos romanos.

O comandante 'Amr destruiu o forte e incendiou os barcos e derrotou os romanos e tomou posse de parte do país. Ele tinha chegado pelo deserto, e os seus cavaleiros tomaram a estrada através das montanhas até chegarem a uma fortaleza construída em pedras, entre o Alto Egito e o Delta, chamada Babilon. Assim, eles armaram suas tendas lá até que estivessem preparados para lutar contra os romanos e guerreá-los; em seguida eles deram nome ao lugar, digo, à fortaleza, de Bablun Al-Fustat, em sua língua, e é o seu nome até hoje.

Depois de três batalhas contra os romanos, o muçulmanos os derrotaram. Assim, quando o líderes da cidade viram essas coisas, foram até 'Amr e receberam um certificado de segurança de que a cidade não seria saqueada. Essa espécie de acordo que Mohammad, o líder dos árabes, os ensinou, eles chamavam de Lei, e ele diz, com relação a ela: "Quanto à província do Egito e qualquer cidade que concorde com que seus habitantes paguem o imposto sobre a terra a vocês e se submetam à sua autoridade, façam um acordo com eles e não os maltratem. Mas saqueiem e façam prisioneiros todos que não consintam com isso e resistam a vocês." Por esta razão, os muçulmanos mantiveram suas mãos fora da província e de seus habitantes, mas destruíram a nação dos romanos e seu general de nome Marianus.  E os romanos que escaparam, fugiram  para Alexandria e fecharam seus portões para os árabes e se fortificaram dentro da cidade.

E, no ano diocleciano de 360, no mês de dezembro, três anos depois de 'Amr ter tomado posse de Memphis, os muçulmanos tomaram a cidade de Alexandria, destruíram seus muros e queimaram muitas igrejas. E queimaram a igreja de São Marcos; e este foi o lugar para o qual o patriarca Pedro, o Mártir, foi antes de seu martírio e abençoou São Marcos, e delegando a ele seu rebanho, como ele o tinha recebido. Assim, eles queimaram esse lugar e os monastérios em volta ...

Quando 'Amr ocupou completamente a cidade de Alexandria e estabeleceu ali sua administração,  aquele infiel, o governador de Alexandria, temia que, sendo  ele prefeito e patriarca da cidade no tempo dos romanos, 'Amr o mataria; portanto, ele bebeu veneno de um anel e morreu no local. Mas Sanutius fez saber a 'Amr as circunstâncias daquele padre militante, o patriarca Benjamin, e como ele havia fugido dos romanos por causa do temor a eles. Então 'Amr, filho de Al-Asi, escreveu uma carta para as províncias do Egito, na qual ele disse: "Existe proteção e segurança para o lugar onde Benjamin, o patriarca dos cristãos coptas esteja e a paz de Deus; portanto, deixe-o seguro e livre daqui para a frente e que administre os assuntos de sua igreja e o governo de sua nação".

Assim, quando Benjamin ouviu isso,  voltou para Alexandria com grande alegria, vestido com a coroa da paciência e o grave conflito que tinha acontecido com os ortodoxos por causa de sua perseguição aos heréticos, depois de ter estado ausente durante trinta anos, dez dos quais foram anos de Heráclio, o considerado romano, com os três anos antes dos muçulmanos conquistarem Alexandria. Quando Benjamin apareceu, o povo e toda a cidade rejubilaram-se e fizeram com que sua chegada fosse conhecida até Sanutius, aquele que tinha ajustado com o comandante 'Amr que o patriarca retornaria e que receberia um salvo-conduto de 'Amr para ele. Em seguida, Sanutius foi ao comandante e anunciou que o patriarca tinha chegado e 'Amr deu ordens para que  Benjamin fosse trazido a sua presença com honra, veneração e amor. E 'Amr, quando viu o patriarca, recebeu-o com respeito e disse a seus companheiros e amigos íntimos: " Na verdade, em todas as terras que ocupamos até agora, jamais vi um homem de Deus como este." Porque o padre Benjamin era de semblante bonito, de excelente oratória, discursava com tranquilidade e dignidade.

Então, 'Amr   voltou-se para ele e lhe disse: "Assuma o governo de todas as suas igrejas e de seu povo e dirija seus negócios. E se for de sua vontade, reze por mim, porque estou indo para o Oriente e para Pentápolis, a fim de ocupar aquelas terras, da mesma forma   como fiz com o Egito e retornarei a salvo e rapidamente, farei por você tudo o que me pedir." Então o santo Benjamin rezou por 'Amr e pronunciou um discurso eloquente que fez com que 'Amr e os presentes  ficassem maravilhados e que contém palavras de exortação e de muito benefício para aqueles que o ouvem; e ele revelou certos assuntos a 'Amr e saiu de sua presença honrado e reverenciado. E tudo o que aquele padre abençoado disse ao comandante 'Amr, filho de Al-Asi, era verdade e nenhuma letra deixou de ser cumprida.

 


Fontes:

From: Sawirus ibn al-Muqaffa, History of the Patriarchs of the Coptic Church of Alexandria, trans. Basil Evetts, (Paris: Firmin-Didot, 1904), pt. I, ch. 1, from Patrologia Orientalis, Vol. I, pp. 489-497, reprinted in Deno John Geanakoplos, Byzantium: Church, Society, and Civilization Seen Through Contemporary Eyes, (Chicago: University of Chicago Press, 1984), pp. 336-338;

Philip Hitti, trans., The Origins of the Islamic State, (New York: Columbia University Press, 1916), Vol. I, pp. 346-349, reprinted in Deno John Geanakoplos, Byzantium: Church, Society, and Civilization Seen Through Contemporary Eyes, (Chicago: University of Chicago Press, 1984), pp. 338-339.

O texto foi adaptado e modernizado pelo Prof. Arkenberg.


Este texto é parte de  Internet Medieval Source Book, que é uma coleção de domínio público e cuja reprodução dos textos relacionados com a história medieval e bizantina  é permitida.

 


home.gif (396 bytes)


1