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Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

 

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INTRODUÇÃO

 

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No século VII, a península arábica era habitada por povos que levavam uma vida nômade, divididos por tribos, incapazes de constituir uma federação mais ampla e estável. Sua religião era politeísta, com algumas crenças semíticas. Adoravam pedras e eram profundamente supersticiosos, com a prática de jogos de adivinhação e oráculos. Ao sul da península, no Iêmen, havia formas de sociedades mais desenvolvidas. Importante porto, por ali passava todo o comércio vindo do Oriente, que ganhava o interior da península através de caravanas de cameleiros que iam até à Síria. Persas e etíopes disputavam a posse de pontos essenciais. Os sassânidas tinham o monopólio comercial do Oceano Índico e tentavam impedir a concorrência de Bizâncio, que pelo Egito tentava infiltrar-se na região. Em decorrência, Meca tornara-se um centro comercial importantíssimo, rota de passagem entre o Iêmen e a Síria e o atual Iraque. Portanto, os árabes não viviam confinados, como podemos imaginar, mas nas fronteiras das duas grandes civilizações existentes então. E sua religião absorvia essa realidade, posto que sua fé refletia um pouco de todas as crenças populares do Oriente.

É nesse ambiente que nasce Mohammad, o homem que pregou a religião única, revelada aos árabes para completar as revelações anteriores. Membro de uma tribo tradicional em Meca, os coraixitas, órfão desde muito cedo, foi criado por seu avô, primeiro, e depois por seu tio, Abu Talib. Homem de hábitos simples, dado à contemplação, era conhecido no seu meio por sua honradez no trato com os negócios e por sua simplicidade. Aos 25 anos casa-se com Khadija, uma viúva mais velha do que ele, uma rica empresária que administrava seus próprios negócios. Aos 40 anos recebe a primeira mensagem e, a partir daí, durante os 23 anos seguintes, o conjunto dessas mensagens foi sendo ordenado e sistematizado em um livro, o Alcorão, o livro sagrado dos muçulmanos.

Em linhas gerais, o Islam é uma religião simples, isenta de dogmas e fundamenta-se em 5 pilares básicos: crença em Deus, nos Seus anjos, nos livros e nos mensageiros, no dia do juízo final, e na predestinação. São pilares da fé: o testemunho, a oração 5 vezes ao dia, o pagamento do zakat, o jejum no mês do Ramadã e a peregrinação, pelo uma vez na vida. As fontes do Islam são basicamente  três: o Alcorão, a sunnah do profeta e as biografias escritas.

Mensagens simples, num estilo candente e direto, de fácil compreensão por parte das pessoas, de imediato surgem as adesões em massa, o que vem abalar o poder da classe dominante em Meca, à época em mãos dos coraixitas. O Alcorão promove uma verdadeira revolução na vida social e política árabe. Ele realçava a igualdade das pessoas dentro da comunidade muçulmana. Os mercadores das cidades e os nômades do desertos estavam unidos sob a mesma liderança. As mulheres passaram a usufruir de uma condição até então desconhecida. Em 622, após anos de perseguições, embargos, humilhação e sofrimento, Mohammad busca refúgio em Iatrib, chamada de A Cidade (Madina) do Profeta. É a Hégira, que dá início à era muçulmana. Em Medina, já não é mais apenas a pregação de uma fé. Mohammad organiza uma comunidade dentro dos princípios islâmicos revelados por Deus, e cuja lei o muçulmano não dissocia da fé, posto que sua origem é divina. Ao morrer, em 632, Mohammad tinha fundado uma religião consciente de sua especificidade, esboçara um regime social externo e superior à organização social e unificara a Arábia, coisa até então inconcebível. Toda a Arábia havia se tornado muçulmana e os árabes já não mais estavam divididos entre a lealdade ao Islam ou às tribos, porque todos eram muçulmanos e o Islam havia absorvido a todos por igual.

No entanto, as discórdias internas coraixitas foram muito mais perigosas. Durante a existência do Profeta, os coraixitas haviam sido os mais ferrenhos opositores ao Islam e à família do Profeta, os descendentes de Hashim. Quando 'Ali, primo e marido da filha de Mohammad, portanto, um hashimita,  foi escolhido como califa, encontrou forte oposição por parte de Muawiya, filho de Abu Sufyan, descendente do clã dos omíadas. Foram cinco anos de guerra civil entre hashimitas e omíadas, culminando com o assassinato de 'Ali.  Muawiya tornou-se califa e estabeleceu a dinastia omíada, que governou o mundo muçulmano por 90 anos, de 661 a 750. Husain, neto do Profeta, foi assassinado pelos Omíadas, em Kerbala, no Iraque. As dissenções entre omíadas e hashimitas dividiram o mundo islâmico e se estenderam até os dias atuais. Aqueles que defendem o direito dos descendentes de 'Ali ao califado, ficaram conhecidos como xiítas (Shia - Partido de 'Ali) e, do ponto de vista espiritual, constituem-se numa facção separada dos sunitas, aqueles que seguem as sunas (ditos e atos) do Profeta.

Após a morte de Mohammad, seguem-se as primeiras conquistas, iniciadas com a tomada da Síria (633-636), depois   Iraque (637), Egito (639-642), Irã (651), no século VIII a ocupação da Africa do Norte e Turquia, e daí, cruzando o Mediterrâneo, para a Espanha e Sicília, atingindo a Gália. Em 712,  o Islam tocava as fronteiras da China e ocupava o que hoje corresponde ao Paquistão ocidental. Em direção ao Ocidente, eles alcançaram o auge de sua expansão em 732, exatamente 100 anos após a morte do Profeta, quando foram derrotados em Tours, na região central da França, a um passo de cruzar o canal da Mancha e alcançar Dover, na Inglaterra.

A expansão árabe, partindo de um emaranhado de tribos nômades hostis, de um deserto remoto, para transformar-se no maior império do mundo, é um dos eventos mais impressionantes e dramáticos da história mundial. De início, essas conquistas não apresentaram efeitos perturbadores sobre as populações conquistadas. Não havia perseguição religiosa por parte dos muçulmanos. Só se exigia que os não-muçulmanos admitissem a supremacia política do Islam, materializada no pagamento de um imposto especial, na proibição de qualquer proselitismo junto a muçulmanos e no caráter puramente árabe do exército. Na verdade, essas reservas pouco afetavam o cotidiano dos povos vencidos. O que é fato é que a vida intelectual floresceu, tanto em Córdoba e Granada como em Damasco e Bagdá. Após 200 anos de iniciada a expansão islâmica, surgem  as primeiras divergências e o domínio do Islam começa a  se  fragmentar em uma  série de governos independentes, cada um deles com uma feição própria, e a supremacia titular do califado passa a ser recusada. Nos cinco séculos seguintes as regiões centrais da Ásia começam a sofrer as invasões nômades e o  mundo islâmico vai  perdendo a unidade política e o brilho militar que haviam caracterizado os primeiros séculos do Islam. A Ásia Ocidental é ocupada pelos turcos seljúcidas,  que passam a controlar o califado, partilhando com os fatimidas do Egito, o poder dominante da comunidade muçulmana. Tão  importante quanto a chegada dos turcos,   foi o aparecimento dos mongóis na última grande invasão nômade do mundo civilizado.

Em 1492, Granada rendeu-se ao exército de Fernando e Isabela, da  Espanha, marcando o fim do domínio islâmico na Europa ocidental.  Em 1500, já não mais havia esperança de unidade política no mundo islâmico. Eram dois os principais centros  islâmicos: o  Egito  e o império otomano. Duas grandes culturas dividiam os muçulmanos: a cultura árabe, com o predomínio do Egito, e a cultura persa, que se tinha difundido entre os grandes impérios continentais criados pelos povos turcos. Apesar disso, o Alcorão, as tradições e a lei, foram os instrumentos aglutinadores para transformar as divergências em uma força social, o que, em última análise, significava o domínio do árabe.

Quando falamos em estado islâmico, estamos nos referindo ao período da história islâmica em que os princípios e as instruções do Islam foram totalmente aplicados em seu verdadeiro sentido. Esse período começa em 622 DC, quando o profeta Mohammad estabeleceu o primeiro estado islâmico na cidade de Medina. Depois de sua morte,  os quatro primeiros Califas que se seguiram, conhecidos como os califas probos (Abu Bakr, Omar, Osman e Ali), aplicaram em sua totalidade todos aqueles princípios islâmicos. O período que se seguiu e que se estende até os dias atuais, podemos dizer que o sistema islâmico autêntico se modificou, transformando-se em monarquias, sem a participação popular na escolha de seus governantes. São sistemas hereditários, semelhantes aos tempos pré-islâmicos, baseados no sistema tribal. O Islam não reconhece esses governos e sequer pode ser responsabilizado por eles.

A seguir, para que se tenha uma melhor compreensão dos acontecimentos desse período, apresentamos uma cronologia que melhor poderá orientar no estudo do Islam.



Século VII - 600 - 699 d.C

Século VIII - 700 - 799 d.C

Século IX - 800 - 899 d.C

Século X - 900 - 999 d.C

Século XI - 1000 - 1099 d.C


Século XII - 1100 - 1199 d.C

Século XIII - 1200 - 1299 d.C



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