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Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

 

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SULEYMAN, O MAGNÍFICO

 

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Foi sob o governo de Suleyman, o Magnífico, que o império otomano alcançou o seu apogeu. Começando em 1520, quando o príncipe Suleyman tornou-se sultão e por 46 anos, até a sua morte, em 1566, houve um verdadeiro Renascimento Otomano. Suleyman foi tão fantástico que os europeus acrescentaram ao seu nome o adjetivo "Magnífico". Durante seu reinado, ele mais do que duplicou o território otomano herdado de seu pai, criando um império multinacional que se estendia desde Viena, no ocidente, até a parte alta da península arábica, no oriente, da Criméia no norte, ao Sudão no sul. Suleyman manteve a soberania de todos os locais sagrados do Islam, e dando "graças a Deus", ele se considerava "o líder da comunidade de Mohammad".

Além de ser um excelente estrategista militar, ele também se ocupou das questões internas de seu sultanato. O crescimento da arquitetura foi exuberante. Ele construiu banhos públicos, pontes, escolas religiosas e um grande complexo de mesquitas (inclusive a incomparável Mesquita de Suleymaniye, em Istambul, construída pelo mestre arquiteto Sinan). Também foi um grande incentivador das artes e uma equipe de 29 pintores, alguns europeus, criou uma nova ordem estética, com suas pinturas miniaturizadas.

O século XVI também é reconhecido como a idade de ouro do  verso clássico otomano e o próprio Suleyman, além de um excelente ourives,  mostrou-se um mestre da palavra através de uma bela poesia.

As ciências, a teologia e o sistema legal, com seu conceito de "justiça" como a pedra angular, progrediram. Suleyman, o Magnífico, deixou um legado de riquezas que continua a influenciar as pessoas até hoje. Parece irônico que as sementes da queda do Império Otomano tenham sido plantadas durante o auge do governo otomano, porque os descendentes do sultão foram incapazes de sustentar as realizações

Suleyman, o Justo

Na história do Islam, Suleyman é visto como o governante islâmico perfeito. Ele incorporou todas as características necessárias a um governante muçulmano, sendo a mais importante delas, a da justiça ('adale). O Alcorão aponta o rei Salomão como o monarca perfeito por causa do seu espírito de 'adale. Suleyman é considerado na história islâmica como o segundo Salomão. O reinado de Suleyman é visto como o período de maior justiça e harmonia de todo o estado islâmico.

Suleyman, o Legislador

Os europeus o chamaram de "o Magnífico", mas os otomanos  de Kanuni, "o Legislador". A mesquita Suleymanie, construída por ele, em suas inscrições descreve Suleyman como Nashiru kawanin al-Sultaniyye, ou o "Propagador das leis do Sultanato". A palavra usada para lei, kanun (cânon), tem um referência específica. Na tradição islâmica, a shari'ah, que é toda ela baseada no Alcorão, é para ser aplicada universalmente por todos os estados islâmicos. Nenhum governante muçulmano tem o poder de mudar, ou alterar uma vírgula sequer, a shari'ah. Portanto, que leis Suleyman deu para o mundo islâmico? A que cânon se referem, uma vez que não pode reportar-se à jurisprudência islâmica, a shari'ah?

Muito embora a shari'ah forneça todas as leis necessárias, existem algumas situações que estão fora de seus parâmetros. Na tradição islâmica, se um caso não está dentre os previstos pela shari'ah, então um juiz ou governante pode legislar por analogia com os casos contidos nela. Este método de pensamento jurídico foi aceito pela maior escola liberal, a hanafita.

No entanto, os otomanos elevaram o kanun à condição de um código de leis independente da shari'ah. Os primeiros dois séculos do governo otomano, de 1350 a 1550, assistiram a uma explosão de cânones legislativos ao ponto de, no começo do século XVI, o kanun ser um conjunto independente de leis mais importante do que a shari'ah. Esta situação ímpar originou-se em parte por causa da herança singular dos otomanos. Nas tradições turcas e mongóis a lei imperial, ou declarada por um monarca, era considerada sagrada.

As leis sultânicas foram colecionadas pela primeira vez pelo sultão Mehmed, o Conquistador. Ele dividiu o cânon em dois conjuntos, ou leis, separados. O primeiro conjunto lidava com a organização do governo e dos exércitos e o segundo com a taxação e o tratamento do campesinato. Este último grupo foi revisto após a morte de Mehmed e o cânon otomano ficou assim inalterado até sua forma final, em 1501. Suleyman, por seu turno, revisou o código legal, mas, no todo, ele é praticamente igual ao sistema de leis de 1501. No entanto, foi durante seu governo que as leis tomaram a sua forma final e nenhuma outra revisão foi feita depois de seu reinado. Daí em diante, este código ficou conhecido como kanun-i 'Osmani, ou "as leis otomanas".

Suleyman, o Conquistador

Os historiadores europeus conhecem Suleyman principalmente como um conquistador, porque ele fez a Europa sentir um medo jamais sentido anteriormente em relação a qualquer estado islâmico. A conquista, como qualquer outro aspecto do estado e cultura otomanos, foi uma herança multicultural, com origens na Mesopotâmia e Pérsia, e nos povos mongóis e turcos da Ásia Central e oriental..

Suleyman teve muitos títulos; em inscrições ele se denomina: Escravo de Deus, o poderoso com o poder de Deus, representante de Deus na terra, obediente aos mandamentos do Alcorão e levando-os ao mundo, mestre de todas as terras, a sombra de Deus sobre todas as nações, Sultão dos Sultões, propagador das leis sultânicas, o décimo sultão dos khans otomanos, sultão, filho de sultão, Suleyman khan.

"Escravo de Deus, dono do mundo, eu sou Suleyman e meu nome é lido em todas as orações em todas as cidades do Islam. Eu sou o xá de Bagdá e do Iraque, César de todas as terras de Roma e o sultão do Egito. Tomei a coroa húngara e a dei para o menor de meus escravos."

Suleyman achava que o mundo inteiro pertencia a ele como um presente de Deus. Muito embora ele não tenha ocupado as terras romanas, ele as reivindicava como de sua propriedade e quase iniciou uma invasão a Roma. Na Europa ele conquistou Rodes, uma grande parte da Grécia, a Hungria e a maior parte do império austríaco. Sua campanha contra os austríacos o levou direto às portas de Viena.

Além dessas invasões e campanhas, Suleyman desempenhou um importante papel na política da Europa. Ele seguiu uma política agressiva de desestabilização. Quando o cristianismo europeu dividiu a Europa em estados católicos e protestantes, Suleyman ajudou financeiramente os países protestantes, a fim de possibilitar que a Europa permanecesse política e religiosamente desestabilizada e pronta para uma invasão. Muitos historiadores, na verdade, discutem se o protestantismo teria sido vitorioso sem o apoio financeiro do império otomano. Suleyman apenas estava respondendo a um processo agressivo de expansão da Europa. Como muitos outros não europeus, Suleyman havia percebido as consequências da expansão européia e via a Europa como a principal ameaça ao Islam. O mundo muçulmano estava começando a encolher diante dessa expansão. Portugal tinha invadido muitas cidades muçulmanas na África oriental, a fim de dominar o comércio com o India, e os russos, que os otomanos viam como europeus, estavam expulsando os asiáticos do sul, quando a expansão russa começou no século XVI. Assim, além de invadir e desestabilizar a Europa, Suleyman seguiu uma política de ajuda a qualquer país muçulmano que se sentisse ameaçado pela expansão européia. Foi esse papel que deu a Suleyman o direito, aos olhos dos otomanos, de se declarar o supremo Califa do Islam. Ele era o único a proteger, com sucesso, o Islam dos infiéis e, como protetor do Islam, merecia ser o governante do Islam.

A expansão do poder europeu ajuda a explicar a conquista dos territórios europeus por Suleyman, mas não explica a grande quantidade de território muçulmano que ele invadiu ou simplesmente anexou. Os otomanos compreendiam isto como uma tarefa de Suleyman, no papel de Califa do Islam. Este papel também exigia que Suleyman olhasse pela integridade da fé, afastando qualquer heresia ou heterodoxia. Sua anexação de territórios muçulmanos, como a Arábia, foi justificada pelo fato de que as dinastias tinham abandonado a crença ou a prática ortodoxa.

Suleyman, o Construtor

Suleyman quis fazer de Istambul o centro da civilização islâmica. Ele começou uma série de projetos arquitetônicos, inclusive pontes, mesquitas e palácios, que se rivalizaram com as maiores construções do mundo naquele século. O maior e mais fantástico arquiteto da história estava a seu serviço: Sinan. As mesquitas construídas por Sinan são consideradas os maiores triunfos arquitetônicos do Islam e possivelmente do mundo. Elas representam um gênio impar para lidar com problemas de engenharia quase que intransponíveis.

Talvez o maior exemplo da arquitetura otomana em Istambul seja a Mesquita de Suleyman. Ela é um tributo ao maior governante do império otomano e ao arquiteto mais criativo, Sinan. Construída entre 1550 e 1557, esta segunda maior mesquita em Istambul é a obra-prima da vida de Sinan, vida esta dedicada a servir de Suleyman.

Mesquita  Suleymaniye, em Istambul

Dominando a terceira colina da Istambul velha, a mesquita é impressionantemente graciosa e com menos ornamentos do que as outras mesquitas imperiais, o que nos permite refletir sobre isso. Como em todas as grandes mesquitas, o salão de orações é precedido de um grande pátio. Quatro minaretes se levantam dos cantos do pátio, que, segundo dizem, significam a posição de Suleyman como o quarto governante otomano de Istambul. Os dez balcões dos minaretes indicam que ele foi o décimo sultão a governar, desde que Osman fundou a dinastia.

O salão de orações é o mais impressionante e sereno de Istambul, construído em mármore finamente decorado. Contíguo à mesquita ficavam as escolas teológicas, uma escola de medicina, uma cozinha e uma hospedagem para os pobres, um banho turco e uma caravansarai (estacionamento das caravanas). Nos jardins de trás, estão os túmulos de Suleyman e de sua esposa, a russa Roxelana.

Suleyman foi também um grande cultivador das artes e é considerado um dos maiores poetas do Islam. Durante seu governo, Istanbul tornou-se o centro da arte visual, da música, da literatura e filosofia. É o mais criativo período de toda a história otomana. Quase todas as formas culturais associadas aos otomanos datam deste período. O reinado de Suleyman, no entanto, geralmente é visto, tanto por historiadores ocidentais como muçulmanos, como o ponto mais  alto da cultura e história otomanas.

 

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