Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso
XÁ ABBAS I (dinastia safávida)
Abbas I, 1587-1629 d.C
Da mesma forma que o império otomano sob a liderança de Suleyman I, os safávidas, durante o período de Abbas, algumas vezes conhecido como Abbas, o Grande, alcançou seu ponto máximo. Sua tarefa, no começo de seu governo, foi reerguer o enfraquecido império safávida, que se encontrava numa situação de colapso iminente, desde a morte de Tahmasp, em 1576. As revoltas qizilbash (cabeças vermelhas) estavam paralisando as tropas e otomanos e usbeques tiravam vantagem do fato de terem ocupado Tabriz e Herat, respectivamente, assim como muitos territórios em torno daquelas cidades. O respeito e a lealdade ao xá também se deterioraram durante os reinados de Ismail II e Mohammad e, assim, Abbas tinha uma árdua tarefa pela frente, no sentido de reafirmar seu poder no mundo islâmico.
Em primeiro lugar, ele voltou sua atenção para as questões militares, num esforço de reconquistar as terras perdidas. A fim de concentrar seus recursos na guerra contra os usbeques, Abbas concluiu um tratado de paz humilhante com os otomanos, em 1590. Depois de uma longa guerra na região leste, o kan usbeque morreu em 1598 e, em decorrência do caos que se seguiu, os safávidas conseguiram reconquistar Herat e estabilizar a fronteira oriental. Abbas, em seguida, voltou-se contra os otomanos e retomou Tabriz, em 1605. Em 1623, ele retomou Bagdá, após um século de governo otomano, e quando morreu, em 1629, o império safávida tinha retornado às suas primeiras fronteiras, conforme estabelecidas por Ismail I.
Abbas também concluiu um novo acordo com os poderes estrangeiros, referente ao comércio. Quando de sua ascenção ao trono, os portugueses tinha estabelecido bases nas ilhas de Ormuz e Bahrein, no golfo pérsico, que desviavam o comércio tradicional feito por terra, através da Pérsia, para as rotas marítimas do oceano Índico, controladas por eles, portugueses. Embora os ingleses, ocasionalmente explorassem as rotas persas e russas, para evitar o território otomano, a economia persa enfraqueceu-se pela perda maior do comércio. Com a criação, em 1660, da Companhia das Índias Orientais, pelos ingleses, as rotas comerciais tradicionais dos safávidas ganharam nova importância. A Companhia havia quebrado o monopólio comercial português, e, em 1616, assinou um acordo com os safávidas, pelo qual o tecido inglês seria trocado pela seda persa. Em 1622, os ingleses ajudaram Abbas a retomar Ormuz dos portugueses, uma vez que sem uma armada, ele não teria sido capaz de reprimir a ameaça que eles representavam para a costa sul. Assim, as relações comerciais introduziram os safávidas na Europa, ou como simples intermediários no comércio com a Índia, ou como aliados contra o Império Otomano.
Internamente, Abbas também implementou uma série de políticas. O mais importante de tudo era encontrar um meio de reprimir as constantes revoltas dos qizilbash. Para isso, criou um exército pago pelo estado, que seria composto dos prisioneiros do Cáucaso, para evitar que dependesse exclusivamente do apoio militar dos qizilbash, em cada campanha safávida. O novo exército poderia sufocar possíveis rebeliões qizilbash, quando necessárias, e era leal somente ao xá. A fim de pagar as novas tropas, Abbas aumentou as terras da coroa, tomando-as dos proprietários qizilbash. Esta ação não só trouxe ganhos financeiros para o tesouro para pagar o novo exército mas também tirou poder dos qizilbash, o que era o objetivo principal. A reestruturação interna do império provocou uma mudança maior de poder, resultando numa centralização de maior nas mãos do xá. Assim fazendo, Abbas principalmente assegurou a sobrevivência o império por um século depois de sua morte, porque, apesar da série de governantes fracos que se seguiram, a administração central criada por ele foi capaz de continuar funcionando.
Em 1598, Abbas mudou a capital safávida para Isfahan, que estava localizada no centro da Pérsia e por isso, menos vulnerável aos ataques. A cidade, que havia sido a capital seljúcida alguns séculos antes, foi embelezada por Abbas, com a mais primorosa arquitetura persa, inclusive o Palácio Real, Ali Qapu, e a Mesquita Real, Masjid-i Shah. Durante seu reinado, Isfahan foi uma das maiores cidades do mundo.
Os impérios otomano e safávida, em 1600 d.C.
O reinado Abbas, o Grande, representou o ponto alto do império
safávida. Ele foi um governante forte, que transformou o império, que se encontrava à
beira de um colapso, em um dos três grandes impérios islâmicos. Introduziu os
safávidas no comércio e diplomacia europeus e reestruturou o exércio para reprimir as
revoltas dos qizilbash.
Porém, Abbas era um governante inseguro, que
temia que sua ascensão ao trono - pela deposição de seu pai - pudesse ser repetida
por um de seus filhos contra ele. Por esta razão, ele matou seu filho mais velho e,
também, acabou com a prática de dar governos provinciais a príncipes safávidas, o que
era uma prática costumeira, para preparar os herdeiros quando fossem chamados a governar.
Abbas temia que isso pudesse fortalecer os príncipes e, assim, determinou que eles
permanecessem no harém, para serem educados pelas mulheres e os eunucos. A consequência
disto foi uma geração de príncipes mal preparados, sem qualquer experiência de
governo, o que veio contribuir para o declínio do império.
FONTES
"A History of the Arab Peoples" - Albert Hourani - Warner Books Edition