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Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

 

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IBN KAHLDOUN

 

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Ibn Khaldoun, historiador, filósofo e sociólogo muçulmano, nasceu em Túnis, em 1332 d.C e morreu no Cairo, em 1406 d.C. Sua família era da elite tunisina e ele recebeu uma educação esmerada. Foi um dos primeiros teóricos da história das civilizações. Segundo Toynbee,  "ele concebeu e formulou uma filosofia  da História que é sem dúvida o maior trabalho jamais realizado por alguém em qualquer tempo ou lugar". Serviu a muitas cortes no Magrebe e foi preso duas vezes. Enquanto se encontrava na prisão, no período de 1375-1379 d.C, escreveu seu famoso "Prolegômenos", uma introdução à obra História Universal. Em 1382 d.C, Ibn Kahldoun tornava-se catedrático na Universidade de Al-Azhar, no Cairo, atuando como juiz e professor em legislação islâmica. A fama dele se espalhou pelo mundo.

 

Universidade de al-Azhar, no Cairo

Sua bagagem cultural formou-se pela tradição dos viajantes muçulmanos, pelo contato com a cultura grega, pelo convívio com as culturas bérberes e cristãs desorganizadas e por sua própria experiência como diplomata e homem de Estado.

Adiantado para o seu tempo, considerava a história como um processo natural. Mostrou   a importância dos fatores externos, como as migrações entre os povos do deserto, na continuidade do desenvolvimento histórico.

Nos Prolegômenos, Ibn Khaldoun escreveu:  "Segui um plano original para escrever a História e escolhi uma via que surpreenderá o leitor   (...)  tratando daquilo que é relativo às civilizações e ao estabelecimento das cidades."  Ele tinha consciência desse caminho inovador que rompeu com a interpretação religiosa da História: "Formaremos uma ciência nova (...) É uma ciência original porque ela tem um objetivo especial: a civilização e a sociedade humana, pois trata das várias questões que servem para explicar sucessivamente os fatos que se prendem à própria essência da sociedade. Tal é o caráter de todas as ciências,  tanto das que  se apóiam na autoridade como daquelas que se fundam na  razão."  Ao longo de sua obra, ele enfatiza o  comportamento a ser adotado por aqueles que se dedicam ao papel de historiador: o exame e a verificação dos fatos, a investigação atenta das causas que os produziram, o conhecimento profundo do modo pelo qual os acontecimentos se passaram.

Tenta, ainda,  explicar a ascensão e queda das dinastias  de uma forma que serviu  de base para o julgamento da credibilidade das narrativas históricas.  Ele acreditava que as primeiras formas  de organização social constituíram-se de tribos que viviam nas estepes e montanhas, dedicadas à agricultura e à pecuária, seguindo líderes que não tinham um poder organizado de coerção. Esses povos assim organizados, não conseguiram criar governos estáveis, cidades ou uma cultura mais sofisticada.  Para que isso fosse possível, era necessário ter um governante com autoridade exclusiva e que fosse capaz de criar e dominar  um grupo de seguidores que possuísse um espírito orientado para a obtenção e manutenção do poder. Era necessário que esse grupo fosse ligado por laços comuns de ancestralidade e tradições, e com a aceitação de uma religião. Um governante que tivesse um grupo coerente de seguidores poderia fundar uma dinastia. Uma vez firmado em seu governo, poderia dedicar-se a construir cidades, desenvolver a cultura, estimular as artes, enfim, criar   condições de vida em padrões mais elevados. Cada dinastia, no entanto,   trazia em si as sementes de seu declínio:  começava a enfraquecer-se pela tirania, pela perda de autoridade. O poder efetivo passava do governante para os membros de seu próprio grupo, mas, cedo ou tarde, a dinastia seria substituída por outra, que se formaria da mesma maneira. Quando isso acontecia,  desapareciam o governante, o modo de vida que ele tinha criado e o grupo se dispersava. 

Ibn Khaldoun constatou que "quando há   uma mudança geral de condições, é como se toda a criação tivesse mudado e o mundo inteiro se tivesse alterado." Os gregos e os persas, os maiores impérios da época,  foram substituídos pelos árabes,  cuja força e coesão criou uma dinastia, cujo poder estendeu-se da Arábia até a Espanha,  mas, que por   sua vez, foi substituído pelos bérberes,  na Espanha e Magrebe, e pelos turcos no Oriente. Em  suas viagens ele pode perceber como a ascensão de uma nova dinastia pode afetar a vida das cidades e da população.

A sua História Universal é  uma fonte de conhecimento da história da África do Norte e dos povos bérberes. Mas, foi em seus "Prolegômenos" que ele esboçou a teoria de que as dinastias têm uma tendência a permanecer atuantes por um período de três gerações, quando uma nova dinastia vem e apaga a antiga. A primeira geração de uma dinastia se dedica à vida dura e exigente de seus domínios, a segunda é a que desenvolve a cultura e a terceira se degenera e prefere todas as comodidades da vida urbana, distanciando-se, assim, dos objetivos iniciais. Com uma terceira geração enfraquecida, com pouca capacidade de defesa, a dinastia torna-se alvo de um novo grupo que surge das áreas rurais para tomar o controle.

Ibn Khaldoun viveu num tempo de constantes mudanças de dinastias e algumas das mais famosas, como a dos almorávidas e almoadas, duraram cerca de um século, ou seja, o tempo de três gerações. Para ele, as civilizações são trazidas pelas tribos que fundam dinastias e impérios. "Os impérios, assim como os homens, têm uma vida própria (...). Surgem, crescem, alcançam a maturidade e depois declinam. Em geral, a duração de vida desses impérios (...) não passa de três gerações."





Fontes:

"Prolegômenos", traduzido por José Khoury e Angelina Bierrenbach Khoury

"Ibn Khaldoun: Naissance de l'histoire, passé de tiers monde" - Ives Lacoste

 

 

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