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AS VIAGENS DE IBN BATUTA

 

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"Ibn Batuta (1307d.C - 1377d.C) foi o equivalente árabe de Marco Polo. Fez a  volta do mundo e tem muito o que dizer sobre o que viu. Em seu livro "Travels in Asia and Africa", ele não só traça um retrato fiel de si mesmo, com as suas virtudes e fraquezas, como evoca toda uma época. É impossível não sentir uma atração pelo personagem que se revela, generoso em excesso, intrépido, amigo do prazer, mas controlado por uma profunda veia de piedade e devoção, um homem com todas as características de um pecador, mas com alguma coisa de santo."

Pag. 131 - No Iraque

Entramos então no território do rei do Iraque, visitando Aqsara (Akserai), onde eles fazem tapetes com lã de carneiro que são exportados para a Índia, China e as terras dos turcos, e viajamos então de Nakda até Qaysariya, que é uma das maiores cidades do país. Nesta cidade mora uma das khatuns do Vice-rei, que é aparentada do rei do Iraque e, como todos os parentes do sultão, tem o título de Aga, que significa Grande. Nós a visitamos e ela nos tratou com cortesia, ordenando que fosse servida comida e quando nos retiramos ela nos mandou um cavalo selado e uma soma em dinheiro. Em todas essas cidades ficamos alojados num convento pertencente à Fraternidade Jovem. É costume neste país  que nas cidades que não possuam uma residência para o sultão, um dos irmãos da Fraternidade comporta-se como governador, exercendo a mesma autoridade e aparecendo em público como o mesmo aparato de um rei...

Em seguida, fomos para Amasiya, uma cidade grande e bonita com ruas largas, Kumish, uma cidade populosa que é visitada por mercadores do Iraque e Síria e tem minas de prata, Arzanjan, onde os armênios formam a maior parte da população e Arz ar-Rum.Existe uma grande cidade em ruínas por causa de uma guerra civil entre duas tribos turcomanas. Hospedamo-nos lá, no convento Tuman, da Fraternidade, que dizem ter mais de 130 anos...

A seguir, fomos para Bursa, uma grande cidade com bazares e ruas largas, cercada de pomares e água corrente. Nos arredores existem dois estabelecimentos termais, um para homens e outro para as mulheres, que abriga pacientes vindos dos mais distantes lugares. Eles se hospedam por três dias em uma hospedaria que foi construída por um dos reis turcomanos. Nesta cidade, encontrei o piedoso shaykh Abdullah, o egípcio, um viajante, que viajou o mundo todo, com exceção da China, Ceilão, Ocidente ou Espanha ou Terra dos Negros, e assim, por ter estado naqueles países eu o ultrapassei. O sultão de Bursa   é Orkhan Beg,filho de Osman Chuk.

Ele é o maior dos reis turcomanos e o mais rico em fortuna, terras e exércitos e possui aproximadamente cem fortalezas, que ele visita frequentemente para inspecionar. Ele luta contra os infiéis e os sitia. Foi seu pai quem tomou Bursa dos gregos e diz-se que ele sitiou Yaznik (Nicéa) por cerca de 20 anos, mas morreu antes que fosse ocupada ...

Partimos na manhã seguinte e alcançamos Muturni (Mudurlu), onde encontramos um peregrino que sabia árabe. Nós o convidamos a viajar conosco até Qastamuniya, que fica a dez dias de viagem daqui... Não parecia ser um homem rico, mas de mau caráter ... Tivemos que suportar sua presença por causa de nossas dificuldades em não saber falar o turco, mas as coisas correram tão bem que costumávamos dizer a ele nas tardes "Bem, Hajji, quanto que você roubou hoje?" Ele respondia "Bastante" e nós nos ríamos muito. Chegamos perto da cidade de Buli, onde permanecemos num convento da Fraternidade Jovem. Como essa gente é fantástica, são nobres, altruístas e cheios de compaixão pelo estrangeiro, como são gentis e como recepcionam bem. Um estrangeiro que chega a eles sente-se como se estivesse encontrando um querido companheiro. Na manhã seguinte, fomos para Garadi Buli, uma cidade grande situada na planície, com ruas espaçosas e bazares, mas uma das mais frias do mundo. É composta de muitos quarteirões e cada um  é habitado por uma comunidade diferente, que não se mistura com as outras...

Depois de atravessar uma pequena cidade chamada Burlu, fomos para Qastamuniya, uma cidada muito grande ... De Qatamuniya, seguimos para Sanub (Sinope), uma cidade populosa, que combina força e beleza...

Permanecemos em Sanub cerca de quarenta dias, esperando o tempo melhorar para embarcarmos para a cidade de Qiram (Criméia). Então, alugamos um navio dos gregos... Por fim, embarcamos ... Chegamos a um porto chamado Karsh (Kerch), pretendendo entrar lá ...

O lugar ficava no deserto de Qipchaq (estepe), que é verdejante e fresco, mas plano e sem árvores.  Não existe lenha, portanto ele fazem o fogo do esterco... O único método de viajar neste deserto é em carroças; são seis meses de viagem, três dos quais em terras do sultão Mohammad Uzbeg. No dia seguinte à nossa chegada, um dos mercadores de nossa comitiva alugou algumas carroças dos habitantes desse deserto, que eram cristãos, e chegamos a Kafa, uma grande cidade que se estende pela costa litorânea, habitada por cristãos, principalmente genoveses, e cujo governador se chama Damdir (Demétrio) ...

Alugamos uma carroça e viajamos para a cidade de Qiram, que forma parte do território do sultão Uzbeg Khan e que tem como governador Tuluktumur ...

Ele estava de saída para a cidade de Sara, a capital do khanato, assim me preparei para viajar com ele e aluguei algumas carroças para essa finalidade. Essas carroças têm quatro grandes rodas e ...  sobre a carroça é colocada uma tenda leve feita de ripas de madeira ... e tem umas janelas para que as pessoas que estão dentro possam ver sem serem vistas. Pode-se fazer qualquer coisa de que se goste lá dentro, dormir, comer, ler ou escrever durante a viagem ...

A cada parada, os turcos descansam os cavalos, os bois e os camelos e os levam para pastar em liberdade, durante o dia ou a noite, sem pastores ou guardas. Isto é devido à severidade de suas leis contra os ladrões. Qualquer pessoa que seja encontrada com um cavalo roubado é obrigada a devolvê-lo com outros nove; se não puder fazer isto, seus filhos são tomados no lugar, e se não tiver filhos ele será morto como um carneiro. Eles não comem pão ou qualquer alimento sólido, mas preparam uma sopa e qualquer carne que eles consigam, cortam em pedaços pequenos e cozinham nessa sopa. Cada um tem a sua porção num prato com coalhada e bebem, depois bebem coalhada de leite de égua, que eles dão o nome de qumizz. Também têm uma bebida fermentada de grãos, que eles chamam buza (cerveja) e a tomam como uma bebida lícita...

Os cavalos neste país são numerosos e o seu preço é uma ninharia. Um bom cavalo custa um dinar de nosso dinheiro. A vida desse povo depende deles e eles são tão numerosos quanto os carneiros em nosso país, ou até mais. Um único turco possui milhares de cavalos. Eles são exportados para a Índia em manadas de 6.000 ou mais...

De Azaq (Azov) prossegui para Majar, viajando atrás do emir Tuluktumur. É uma das mais belas cidades turcas e está situada às margens de um grande rio.

... Uma coisa notável que vi neste país foi o respeito demonstrado às mulheres pelos turcos, porque elas desfrutam de uma posição mais digna do que a dos homens. A primeira vez que vi uma princesa foi quando, ao deixar a cidade de Qiram, vi a esposa do emir em sua carroça. Todo o vagão estava coberto com uma rica manta azul e as janelas e portas da tenda estavam abertas. Com a princesa estavam 4 servas, extremamente belas e ricamente vestidas, e atrás dela vinha uma série de carroças com as servas pertencentes à comitiva dela. Quando se aproximou do acampamento do emir, ela desceu com cerca de 30 servas que carregavam seus pertences... Quando ela chegou perto do emir, ele se levantou e a fez sentar-se ao seu lado, com as servas em volta dela. Trouxeram, então, odres de qumizz e ela derramou um pouco num copo, ajoelhou-se e deu para ele beber, e depois derramou em outro copo para o seu irmão. O emir,então, colocou num copo para ela e a comida foi trazida e ela comeu com ele. Em seguida, ele lhe deu uma túnica e ela se retirou. Também vi as esposas dos mercadores. Uma delas estava sentada numa carroça que estava sendo puxada por cavalos, esperando por três ou quatro servas...

A janelas da tenda estão abertas e seu rosto é visível porque as turcas não usam o véu. Algumas vezes uma mulher será acompanhada por seu marido e quem o vir pensará que se trata de um de seus servos; ele não usa senão um manto de lã de carneiro e um barrete.

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Este texto é parte do Internet Medieval Source Book. O Sourcebook é uma coleção de domínio público e é permitida a transcrição de textos relacionados à história medieval e bizantina.

Paul Halsall Feb 1996 

 

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