Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso
TAMERLÃO
Embora ele fosse de descendência mongol, Tamerlão,
ou Timur, o Coxo, na verdade, era mais turco do que mongol, na língua e na
religião. Ele era o exemplo da assimilação que os mongóis da Ásia Central turca
sofreram desde a época de Gêngis Khan. Ele era muçulmano, mas isto não o impediu de
atacar outros impérios muçulmanos, inclusive os pequenos principados que se sucederam ao
Il-khanato na Pérsia, os remanescentes do Horda de Ouro, o recém formado império
otomano na Ásia Menor e o sultanato de Delhi, na Índia. No entanto, diferentemente
de seus ancestrais mongóis, Timur jamais estabeleceu administrações por onde quer
que passasse. Ele passava seu tempo planejando e executando ataques, mas, após as
inevitáveis vitórias, muitas vezes ele se retirava para Samarcanda, sua capital, em vez
de criar uma estrutura burocrática para administrar os novos territórios conquistados.
Por esta razão, ele foi bem diferente de Gêngis Khan, e dos que o sucederam.
O império de Timur começou no khanato de Chagatai, onde ele nasceu, em 1336. Em meados do século XIV, o khanato foi-se desintegrando por causa de uma série de líderes fracos, e porque diferentes regiões dentro do khanato estavam envolvidas em processos de separação. A Transoxiana, uma pequena região que incluía as cidades de Bucara e Samarcanda, era uma região próspera, enquanto que o resto do khanato de Chagatai estava se desmanchando. Timur começou sua carreira de conquistas na Transoxiana, onde ele lutou contra os khans locais. Ele foi bem sucedido em 1364, expulsando os khans chagatai da região e assumindo o controle. Suas demonstrações públicas de tolerância, granjearam-lhe o apoio dos líderes religiosos da comunidade, embora seu governo não fosse sólido o bastante, porque ele não era um descendente direto de Gêngis Khan, uma exigência para todos os líderes do território chagatai. Por esta razão, ele colocou no trono um fraco, mas um genuíno descendente mongol, enquanto ele mesmo assumia um título menor, o de sultão, e tenha governado por trás dos bastidores.
Da Transoxiana, Timur se voltou para o leste e começou a atacar a Pérsia. Em 1385, ele dominou os príncipes locais da região, que tinham assumido o poder quando da dissolução do Il-lhanato. Enquanto isso, ele enfrentou um novo desafio, vindo do khan do Horda de Ouro, Toqtamish, a quem Timur tinha auxiliado na luta sucessória, alguns anos antes. Toqtamish tinha reunificado o Horda de Ouro e agora se voltava para o império em expansão de Timur. Em 1385, Toqtamish atacou Tabriz, a antiga capital do Il-khanato, iniciando, assim, uma guerra contra Timur. Timur devastou o Azerbaijão, a Armênia, a Geórgia e o norte do Iraque, e saqueou as cidades persas de Isfahan e Shiraz. Em 1391, ele finalmente derrotou o exército de Toqtamish, liberando, assim, suas tropas para concentrar as energias no seu próximo objetivo - Síria e Ásia Menor. Em 1395, ele dominou a região, embora ele ainda teria que enfrentar o poder militar do império otomano. Depois de voltar a Samarcanda, como sempre fazia a cada vitória, Timur concentrou sua atenção para o norte da Índia e o sultanato de Delhi ali existente.
O Islam penetrou a Índia pela primeira vez, em 711, no mesmo ano em que os omíadas conquistavam a Espanha. No entanto, até o surgimento do império mogol, no século XVI, a fé islâmica só tinha alcançado as regiões norte do subcontinente, especialmente Sind e Punjab. Na medida em que os governantes muçulmanos de outras regiões tinham sido relativamente tolerantes com o cristianismo, o judaísmo e o zoroastrismo, os do norte da Índia foram igualmente tolerantes com o hinduísmo, uma religião que se havia originado no subcontinente e que a maioria dos hindus professava.
Timur iniciou seu ataque à Índia em 1398, afirmando que o sultanato muçulmano de Delhi era muito indulgente com os súditos hindus. Provavelmente Timur cuidasse mais de saquear essa rica região muçulmana do que propriamente punir seus líderes tolerantes em relação à religião. De qualquer modo, ele saqueou Delhi rapidamente, apesar dos esforços do exército do sultão, que incluía 120 elefantes adestrados para a guerra. Como sempre fazia, ele não ficou na Índia para estabelecer uma administração timurida. Deixou o norte da Índia em ruínas e voltou para Samarcanda.
A Guerra dos Elefantes
Em seu retorno à Síria, Timur usou os elefantes da
Índia para derrotar os mamelucos e capturar Alepo e Damasco. Ele nunca invadiu o Egito,
provavelmente porque fosse muito distante de sua base em Samarcanda, e porque, talvez, ele
quisesse preservar as energias de seu exército para o seu objetivo maior, o recém
formado, mas em franca expansão, Império Otomano, na Ásia Menor. O sultão otomano,
Bayazid I, estava mal preparado para defender seus domínios contra as investidas de
Timur, uma vez que suas tropas ja vinham de uma série de campanhas contra a
Constatinopla bizantina. O exército de Timur derrotou os otomanos em 1402 e Bayazid
morreu um ano depois no cativeiro. Timur, mais uma vez, retornou a Samarcanda para
planejar a próxima ofensiva, desta vez contra a China dos ming. Em 1405, no
entanto, enquanto se dirigia para a China, Timur ficou doente e morreu, com a idade de 69
anos.
O império timurida
em 1405
O império timurida não pode ser definido pelo fato de ter sido
um império islâmico. Seu fundador era um muçulmano, mas raramente invocava sua
religião como objetivo primordial para as suas invasões. Todos os territórios que ele
invadiu também eram governados por muçulmanos. A sua alegação para invadir o sultanato
de Delhi foi a de que tinha sido provocada pelo fato de o império ser tolerante com com
o hinduísmo. Mas, mesmo esta razão mal
consegue disfarçar seu real desejo de obter algum ganho da grande riqueza do
sultanato. Mas se sua fé nem sempre se tenha mostrado durante suas campanhas militares,
certamente se fez presente no aspecto cultura de sua capital, Samarcanda. Artesãos foram
trazidos de todos os territórios islâmicos que Timur tinha conquistado para embelezar a
cidade e, na verdade, muitos dos mais belos monumentos da cidade foram erigidos pelos
arquitetos timuridas. A arte da miniatura persa também prosperou durante a época de
Timur e as cidades persas de Herat, Shiraz e Tabriz tornaram-se centros importantes desta
arte.
Mausoléu de Tamerlão, construído no séc. XV, em Samarcanda
O império timurida sobreviveu por mais um
século, em meio a disputas sucessórias dos descendentes de Timur, mas desapareceu diante
o poder emergente dos uzbeques da Ásia Central em 1506. Como Timur sempre se
preocupou com suas conquistas e pilhagens, ele não se esforçou em criar uma burocracia
duradoura para seus territórios. Esta é uma das razões
pelas quais eles não foram capazes de sobreviver sem Timur por muito tempo e logo
incorporaram-se aos novos impérios: otomano, safávida e o mogol, fundado por
Babur, um descendente de Timur.
FONTE:
http://www.ucalgary.ca/HIST/tutor/islam/mongols/