Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso
O primeiro Califa, Abu Bakr - 632 d.C a 634 d.C
"Se eu tivesse que ter um amigo além de meu Senhor, esse alguém seria Abu Bakr" (hadice)
Eleição para o Califado
Abu Bakr, o companheiro mais próximo do Profeta, não estava presente quando ele deu seu último suspiro na casa de sua esposa Aisha, filha de Abu Bakr, mas foi ele quem deu a notícia para os muçulmanos de Medina. Após os primeiros momentos de tristeza e dor pela morte do Profeta, Abu Bakr foi para a mesquita e falou para as pessoas:
"Ó gentes, aquele que adora a Mohammad, eis que Mohammad está morto realmente. Mas, aquele que adora a Deus, eis que Ele está vivo e nunca morre."
E concluiu com um versículo do Alcorão:
"Mohammad não é senão um Mensageiro, a quem outros mensageiros precederam. Porventura, se morresse ou fosse morto, voltaríeis à incredulidade? " (3:144)
Ao ouvirem essas palavras, as pessoas se consolaram. O abatimento cedeu lugar à confiança e tranquilidade. O momento crítico havia passado, mas a comunidade muçulmana tinha agora um problema muito sério que era o de escolher um líder. Após algumas discussões entre os companheiros do Profeta, que tinham se reunido a fim de escolher o líder, ficou claro que ninguém melhor e mais adequado para a responsabilidade do que Abu Bakr.
O califado de Abu Bakr
Antes do advento do Islam, Abu Bakr era conhecido como um homem de caráter correto e de natureza afável e compassivo. Por toda sua vida ele foi sensível ao sofrimento humano e gentil com os pobres e necessitados. Mesmo sendo rico, viveu muito simplesmente e usava seu dinheiro para a caridade, libertação de escravos e pela causa do Islam. Era comum passar noites em súplicas e orações.
Esse era o homem sobre quem o peso da liderança caiu, no período mais sensível da história dos muçulmanos. Assim que a notícia da morte do Profeta se espalho, numerosas tribos se rebelaram e se recusaram a pagar o Zakat, alegando que ele era devido somente ao Profeta. Ao mesmo tempo, começaram a surgir numerosos impostores, alegando que a condição de profeta tinha passado para eles. Além disso, o Império Romano do Oriente e o Império Persa começaram a ameaçar o recém-nascido estado islâmico de Medina.
Diante de tais circunstâncias, muitos companheiros do Profeta, inclusive 'Omar, aconselharam Abu Bakr fazer concessões aos sonegadores do Zakat, pelo menos uma vez. O novo califa não concordou. Ele insistia em que era uma lei divina que não podia ser desrespeitada, que não havia diferença entre as obrigações do Zakat e o Salat e que qualquer acordo com as injunções de Deus acabariam por corromper as bases do Islam.
As tribos revoltosas atacaram Medina mas os muçulmanos estavam preparados. O próprio Abu Bakr liderou um ataque que os forçou a recuarem. A seguir, declarou uma guerra implacável contra aqueles que se autoproclamavam profetas e ao final, muitos se submeteram e retornaram ao Islam.
A ameaça do Império Romano na verdade tinha começado mais cedo, com o Profeta ainda vivo. O Profeta tinha organizado um exército liderado por Usama, filho de um liberto. O exército não foi muito longe porque o Profeta caiu doente. Após a morte dele, a questão apresentada era se o exército deveria prosseguir ou ficar para defender a cidade de Medina. Mais uma vez, Abu Bakr mostrou uma firme determinação. Ele disse "Enviarei o exército de Usama da forma como o Profeta ordenou, ainda que eu fique sozinho."
As instruções finais dadas a Usama prescreviam um código de conduta de guerra que permanece até os dias de hoje:
"Não desertem nem desobedeçam. Não matem um velho, uma mulher ou uma criança. Não maltrate as palmeiras nem derrubem as árvores. Não matem carneiros e vacas ou camelos, a não ser para o alimento. Vocês encontrarão pessoas que passam a vida em monastérios. Deixai-as em paz e não as molestem.
Em diversas ocasiões, Khalid bin Walid tinha sido escolhido pelo Profeta para chefiar os exércitos. Homem de grande coragem e nascido para chefiar, seu gênio militar acabou por destacar durante o califado de Abu Bakr, quando liderou suas tropas alcançando diversas vitórias sobre os romanos. Uma outra contribuição de Abu Bakr para a causa do Islam foi a coleção e compilação dos versículos do Alcorão.
Abu Bakr morreu no ano de 634 d.C, com a idade
de 63 anos, e foi enterrado ao lado do Profeta. Seu califado teve a duração de 27 meses
mas, sob seu comando, a comunidade e o estado islâmico foram consolidados.
Fontes:
"A Idade Média - Proeminência das civilizações orientais" - Edouard Perroy
"A Short History of Islam" - S.F.Mahmud