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Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

 

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A FAMÍLIA SAUD E O ISLAM WAHHABI (1500-1850)

 

 

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A família Al-Saud é originária  de Ad-Diriyah, no centro de Najd, próxima à moderna capital da Arábia Saudita, Riad. Por volta de 1500, antepassados de Saud ibn Mohammad se apossaram de alguns campos de tâmaras, uma das poucas formas de agricultura da região, e se estabeleceram ali. Com o passar do tempo, a área se transformou em uma pequena cidade e o clã, que se tornaria Al-Saud, veio a ser reconhecido como seu líder.

A ascensão dos  Saud está intimamente ligada a Mohammad ibn Abd al Wahhab (morto em 1792), um estudioso muçulmano cujas idéias formam a base do movimento wahhabi. Ele cresceu em Uyaynah, um oásis ao sul de Najd, onde estudou com seu avô a lei islâmica hanbalita, uma das escolas do pensamento islâmico mais rigorosas. Ainda jovem, ele saiu de Uyaynah para estudar com outros professores, uma forma comum de buscar uma educação mais aprimorada no mundo islâmico. Ele estudou em Medina e depois foi para o Iraque e Irã.

Para se entender a importância das idéias de Mohammad ibn Abd al Wahhab, elas devem ser analisadas dentro do contexto da prática islâmica. Havia uma diferença entre os rituais estabelecidos claramente definidos nos textos religiosos que todos os muçulmanos praticam, e o Islam popular. Este último se refere a costumes locais que não são universais.

A prática xiita de visitar templos é um exemplo do que seja um costume popular.  Os xiitas continuam a reverenciar os imames mesmo depois de mortos e, assim, visitam seus túmulos para pedir favores àqueles que estão ali enterrados. Esta é uma prática xiita que foi sendo justificada e se tornou estabelecida.

Algumas tribos árabes chegaram a atribuir a mesma espécie de poder que os xiítas reconhecem no túmulo de um imam aos objetos naturais, como pedras e árvores. Estas crenças eram particularmente inquietantes para Mohammad ibn Abd al Wahhab. No final da década de 1730, ele voltou à cidade de Huraymila, no Najd, e começou a escrever e pregar contra os xiitas e os costumes locais populares. Ele se centrou no princípio muçulmano de que não há outra divindade que não seja Deus e que Deus não compartilha o poder com ninguém, nem com os imames e certamente nem com árvores e pedras. A partir deste princípio unitário, seus estudantes começaram a se referir a si próprios como os muwahhidun (unitários). Seus caluniadores se referiam a eles como os "wahhabis" - "seguidores de Mohammad ibn Abd al Wahhab", com um sentido pejorativo.

A idéia de um deus unitário não era nova. Mohammad ibn Abd al Wahhab, no entanto, deu um sentido de importância política a ela. Ele dirigiu seus ataques aos xiítas e também procurou as lideranças locais, tentando convencê-las de que esta era uma questão islâmica. Ele expandiu sua mensagem para incluir a adesão rigorosa aos princípios da lei islâmica. Ele se referia a si próprio como o "reformador" e procurava uma figura política que pudesse proporcionar uma audiência maior para suas idéias.

Sentindo a falta de apoio político em Huraymila, Mohammad ibn Abd al Wahhab retornou para Uyaynah, onde ele conquistou alguns líderes locais. Uyaynah, contudo, estava próxima de Al Hufuf, um dos centros dos Doze Imames na Arábia oriental e seus líderes ficaram preocupados com o tom anti-xiíta da mensagem wahhabi. Em parte como resultado de sua influência, Mohammad ibn Abd al Wahhab foi obrigado a deixar Uyaynah e foi para Ad Diriyah. Ele tinha feito contatos iniciais com Mohammad ibn Saud, o líder de Ad Diriyah naquele tempo, e dois irmãos de Mohammad o acompanharam quando ele destruiu os santuários xiitas nas cercanias de Uyaynah.

Por conseguinte, quando Mohammad ibn Abd al Wahhab chegou a Ad Diriyah, os  Saud estavam prontos para apoiá-lo. Em 1744, Mohammad ibn Saud e Mohammad ibn Abd al Wahhab fizeram um juramento muçulmano tradicional onde eles prometiam trabalhar juntos para criar um estado que estivesse de acordo com os princípios islâmicos. Até aquela época, os Saud eram considerados os  líderes tribais cujo governo era baseado na autoridade duradoura, mas vagamente definida.

Mohammad ibn Abd al Wahhab ofereceu aos Saud uma missão religiosa claramente definida que os ajudaria em sua liderança e na qual eles poderiam basear sua autoridade política. Este sentido de objetivo religioso permaneceu claro na ideologia política da Arábia Saudita nos anos 90 do século XX.

Mohammad ibn Saud começou levando seus exércitos às cidades e vilas do Najd para erradicar as várias práticas populares e xiítas. O movimento ajudou a reunir em torno do padrão wahhabi-saudita as diversas tribos do Najd. Em 1765, as forças de Mohammad ibn Saud tinham estabelecido o wahhabismo - e com ele a autoridade política dos Saud - sobre a maior parte do Najd.

Após a morte de Mohammad ibn Saud, em 1765,seu filho, Abdul Aziz, continuou o avanço wahhabi. Em 1801, os exércitos wahhabi-saudita atacaram e saquearam Kerbala, o santuário xiíta, no Iraque oriental, que celebra a morte de Hussein. Em 1803, ele assumiu o controle das cidades sunitas do Hijaz. Embora os wahhabis poupassem Meca e Medina da destruição, eles não pouparam os monumentos e túmulos que estavam sendo usados para orações a santos muçulmanos e para rituais votivos, pois consideravam  atos de politeísmo. Ao destruir os objetos que eram objeto desses rituais, os wahhabis buscavam imitar a destruição dos ídolos pagãos promovida pelo Profeta quando ele retornou a Meca, em 628.

Se os Saud tivessem ficado em Najd, o mundo teria prestado pouca atenção a eles. Mas, a captura do Hijaz trouxe o domínio dos Saud para o conflito com o resto do mundo islâmico. As práticas xiitas,  que os wahhabis eram contra, eram importantes para outros muçulmanos, cuja maioria estava preocupada que os santuários fossem destruídos e o acesso às cidades sagradas fosse restringido.

Além do mais, o governo no Hijaz era um símbolo importante. Os turcos otomanos, a força política mais importante do mundo islâmico naquela época, tinham se recusado a ceder o governo sobre o Hijaz aos líderes locais. No início do século XIX, os otomanos não estavam em posição de recuperar o Hijaz, porque o império estava em franco declínio há mais de dois séculos e suas forças estavam enfraquecidas. Assim, os otomanos delegaram a retomada do Hijaz ao seu cliente mais ambicioso, Mohammad Ali, o comandante semi-independente de sua guarnição no Egito. Mohammad Ali, em troca, entregou a tarefa a seu filho Tursun, que chefiou uma expedição ao Hijaz em 1816; Muhammad Ali mais tarde se juntou a seu filho para comandar o exército pessoalmente.

Nesse meio tempo, Mohammad ibn Abd al Wahhab tinha morrido em 1792 e Abdul Aziz morrera um pouco antes da captura de Meca. O movimento continuou, no entanto, a reconhecer a liderança dos Saud e assim seguiram o filho de Abdul Aziz, Saud, até 1814; depois da morte de Saud, em1814, seu filho, Abdallah, assumiu a liderança. Portanto, foi Abdallah ibn Saud ibn Abdul Aziz quem enfrentou o exército egípcio invasor.

As forças de Tursun ocuparam Meca e Medina quase que imediatamente. Abdallah escolheu nesta época retirar-se para os domínios da família no Najd. Mohammad Ali decidiu procurá-lo lá, mandando um outro exército sob o comando de um outro filho seu, Ibrahim. Os wahhabi fizeram seu posto na tradicional capital dos Saud, Ad Diriyah, onde conseguiram manter afastados por dois anos o exército egípcio. No final, no entanto, os wahhabi mostraram que não estavam à altura de um exército moderno e Ad Diriyah - e Abdallah com ela - caiu em 1818.

 

 

 

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