Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso
Os Mamelucos (1240d.C - 1517d.C)
Mameluco (mamluk), palavra árabe que significa possuído, governado, ou seja, escravo de origem não muçulmana. Os escravos que compunham a instituição mameluca dominante, chegaram ao Egito e Síria na qualidade de pagãos, trazidos por mercadores, como os venezianos e genoveses, para serem vendidos. Os jovens mamelucos comprados pelos sultões aiúbidas recebiam uma esmerada educação islâmica e boa preparação militar em colégios do Cairo, de onde saíam completamente transformados. Ingressavam no corpo dos mamelucos reais e ganhavam a liberdade, cavalos e equipamentos, além de um pedaço de terra que lhes permitia viver independente.
Entre 1240 e 1517, eles criaram um sultanato no Egito e regiões vizinhas, surgindo daí duas dinastias de regentes. Estes ex-escravos de origem não muçulmana, oriundos do sul da Rússia e do Cáucaso, se constituíram em uma milícia (de mais ou menos 12.000 homens), que foi organizada pelo sultão aiúbida, As-Salih Ayub (1240-1249).
Os mamelucos denominados bahries (bahr, "rio", numa referência ao Nilo), de origem turca, entre 1250 e 1382,tiveram 27 sultões, e os buríes (de bury, "torre", numa referência à torre de vigilância que encimava o quartel deles), de origem circassiana (procedentes do Cáucaso), tiveram 27 sultões entre 1382 e 1517. Entre os bahries, o mais famoso foi Baibars, e entre os buríes destacou-se o circassiano al-Malik al-Ashraf Saifuddin Barsbai, a Pantera, que governou o sultanato entre 1422 e 1438. O advento da dinastia bahrida em 1250, deu início a uma linha sucessória que trouxe grande prosperidade ao Egito e Palestina.
Para compreendermos a história do Egito, durante a Idade Média, é necessário considerar os dois maiores acontecimentos do mundo árabe oriental: a migração das tribos turcas, durante o califado abássida e sua dominação; e a invasão mongol. As tribos turcas começaram a se movimentar no século VI, saindo das estepes eurasianas. Como o califado abássida já estava enfraquecido, as tribos turcas começaram a cruzar a fronteira, em busca de pastagens melhores. Os turcos se converteram ao Islam um pouco depois de entrarem no Oriente Médio, na qualidade de mamelucos (escravos), empregados dos exércitos dos governantes árabes. Embora fossem escravos, recebiam salários, e algumas vezes generosos, pelos serviços prestados. Na verdade, o serviço deles como soldados e membros de uma unidade de elite, ou como guardas imperiais, era um invejável primeiro passo para a ascensão social, que abria a possibilidade de ocupar os mais elevados postos no estado. O treinamento deles não ficava restrito só às questões militares e, muitas vezes, incluía línguas e literatura, além de habilidades administrativas, que o capacitavam a ocupar cargos na administração.
No final do século X, uma nova onda de turcos entrou no império, como guerreiros livres e conquistadores. Um grupo ocupou Bagdá, tomou o controle do governo central e reduziu os califas abássidas a simples marionetes. Um outro grupo foi para a Anatólia, expulsando os bizantinos.
Incrivelmente experientes na arte da guerra e dotados de um grande valor, esses soldados conseguiram deter o avanço dos mongóis de Hulagu Khan (1217-1265), o destruidor de Bagdá, em 1258, e de Ghazan (1271-1304), e também conseguiram reconquistar na Síria e Palestina territórios cruzados.
Os mamelucos já estavam estabelecidos no Egito quando os mongóis destruíram o califado abássida, e foram capazes de fundar seu próprio império. Em 1258, os invasores mongóis condenaram à morte Mustazim, o último califa abássida de Bagdá. No ano seguinte, um exército mongol de mais ou menos 120.000 homens, comandados por Hulagu Khan, cruzou o Eufrates e entrou na Síria.
Enquanto isso, no Egito, o último sultão aiúbida tinha morrido em 1250 d.C, e o controle político do estado tinha passado para os guardas mamelucos, cujos generais tinham-se apoderado do sultanato. Em 1258 d.C, logo após chegar ao Egito a notícia de que os mongóis haviam invadido a Síria, Qutuz, um turco mameluco, declarou-se sultão e organizou a resistência militar vitoriosa contra o avanço mongol. A batalha decisiva deu-se em 1260 d.C, em Ayn Jalut, na Palestina, onde o exército de Qutuz derrotou as forças mongóis.
Baybars I desempenhou um importante papel nessa luta. Um pouco depois, ele assassinou Qutuz e acabou sendo escolhido sultão. Baybars I (1260d.C-1277d.C) foi o verdadeiro fundador do império mameluco. Ele veio do corpo de elite dos mamelucos turcos, os bahriyyah, assim chamados porque formavam a guarnição da ilha de Rawdah, no rio Nilo. Baybars I estabeleceu seu governo firmemente na Síria, forçando os mongóis a recuarem para seus territórios no Iraque.
Ao final do século XIV, o poder passou dos mamelucos bahriyyah para os circassianos, os quais os sultões turcos mamelucos tinham, por sua vez, recrutados como soldados escravos. Entre 1260d.C e 1517d.C, os sultões mamelucos de origem turco-circassiana, governaram um império que se estendeu do Egito até a Síria, e incluía as cidades sagradas de Meca e Medina. Como os "califas sombrios", os sultões mamelucos organizaram as peregrinações anuais a Meca. Por causa do poder mameluco, o mundo islâmico ocidental ficou resguardado da ameaça dos mongóis. As grandes cidades, principalmente o Cairo, a capital mameluca, cresceu em prestígio e fama. Por volta do século XIV, o Cairo tinha-se tornado o centro religioso mais importante do mundo muçulmano.
OS MONGÓIS E OS MAMELUCOS
Os mamelucos tinham sido recrutados pelos aiúbidas e,
então, como os mercenários turcos dos califas abássidas, usurparam o poder de seus
senhores enfraquecidos. Diferentemente de seus predecessores, eles foram capazes de manter
o poder e controlaram o Egito até a conquista otomana, em 1517. Excelentes, do
ponto de vista militar, também foram o primeiro poder a derrotar os bárbaros em combate
aberto, quando, em 1260, os mongóis se dirigiram para a Palestina e Egito. Alertados da
presença dos mongóis, os mamelucos conseguiram organizar suas forças em tempo de
enfrentar e esmagá-los em 'Ayn Jalut, próximo a Nazaré, na Palestina.
Nesse meio tempo, os mongóis, como muitos dos povos que tiveram contato com o
Islam, começaram a abraçar o Islam. No início do século XIV, Ghazan Khan Mahmud adotou
oficialmente o Islam como religião de estado e a parte oriental do império mongol gozou
da paz por um certo tempo. Durante este período, os mongóis construíram mesquitas e
escolas. Mas, em 1380, uma nova confederação turco-mongol surgiu, junto com um outro
conquistador: Tamerlão (Timur), que se dizia descendente de Gêngis Khan. Sob a
liderança dele, as forças mongóis varreram a Ásia Central, a Índia, o Irã, o Iraque
e a Síria, ocupando Alepo e Damasco e ameaçando, mas não derrotando, os
mamelucos. Mais uma vez, os muçulmanos sobreviveram a seus invasores. Tamerlão morreu
quando se encaminhava para conquistar a China, e seu império dissolveu-se.