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Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso

 

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OS OMÍADAS

 

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Mapa da Expansão muçulmana durante a dinastia omíada

 

Das lutas que opuseram Osman, terceiro califa, e depois Muawiya, governador da Síria, contra 'Ali, quarto califa, surgiram três tendências. A princípio, chocaram-se os que acalentavam o sonho da manutenção das formas do Islam primitivo, os "velhos muçulmanos", e os que procuravam tirar partido e aproveitar-se das circunstâncias e das inovações. Na verdade, o choque era entre os ardentes adeptos religiosos da primeira hora e a classe política coraixita, impaciente por reconquistar sua antiga influência na nova sociedade.

Entre os muçulmanos da primeira hora, distinguem-se duas correntes de opinião. Os carijitas, para quem todos os fiéis, em princípio, eram iguais e, tendo em vista que havia   a necessidade de um chefe, este só podia ser o melhor dentre os muçulmanos, sem distinção de origem, e os que não fossem bons muçulmanos deviam ser combatidos como infiéis. Os xiitas, para quem a defesa do Islam primitivo passava pela defesa da família do Profeta e, mais especialmente, apenas dos seus únicos descendentes, ou seja, os filhos de sua filha Fátima e do genro 'Ali. 

Não se tratava propriamente de um princípio monárquico humano e sim de considerar o chefe da comunidade como um simples administrador da Lei Divina e de uma convicção de que a Revelação devia continuar na família do Profeta, fazendo com que seus membros fossem os verdadeiros imames do caminho da fé. Na verdade, o que pretendiam era evitar a separação entre o político e o religioso.

A corrente política predominou e com Muawiya governador da Síria e que já dera provas de suas intenções, fundaram a dinastia dos Omíadas. Os carijitas sublevaram-se mais ou menos por toda a parte, sem muita coesão. Os xiitas, pouco combativos, deixaram matar seus pretendentes, especialmente no embate de Kerbala (680 d.C). Apenas os omíadas souberam agir e assumir o poder.

Uma vez tornado califa, Muawiya conservou sua residência em Damasco. Isto significava uma inevitável perda de importância da Arábia, como se o seu papel fosse apenas o de fornecer ao mundo um exército e uma religião e voltar à sombra quando um e outro se expandissem fora da Arábia. Na verdade, a peregrinação a Meca e a presença em Medina dos descendentes dos que haviam convivido com o Profeta, conferiram durante muito tempo às duas cidades um prestígio que, de uma certa  forma, amparou as tentativas de revolta.  Além disso, o estabelecimento dos omíadas em Damasco, assegurava a preponderância dos árabes da Síria sobre os árabes de outros territórios, principalmente sobre o Iraque, um foco do xiísmo.

A história islâmica não fez  muita justiça à dinastia omíada e há muitas razões para isso. Muitas das histórias relativas aos omíadas foram  escritas durante o período abássida e havia um forte preconceito contra eles naqueles tempos. Muawiya não havia desempenhado um  papel mais nobre em  suas reivindicações de vingança  e em sua luta contra 'Ali. Yazid I, seu filho, tinha cometido um crime da pior espécie  possível (Kerbala) e o sentimento anti-'Ali foi deliberadamente criado e alimentado por Muawiya e seus sucessores.   As rivalidades tribais também podem ter colaborado para que os abássidas se tornassem tão hostis e vingativos. O que é fato é que as realizações dos omíadas nunca foram avaliadas adequadamente pelos muçulmanos.

Os novos aspectos do mundo árabe. Esquece-se muitas vezes que foi sob a dinastia omíada que os árabes se tornaram uma força poderosa. A maior extensão do estado muçulmano aconteceu durante o califado de Walid inb Abdul Malik. Todo o território muçulmano foi arabizado durante o seu califado e de seus descendentes. A gramática árabe, a ciência, a historiografia, a arquitetura árabe, foram criadas no período omíada. Era uma sociedade em formação, uma nova civilização que estava nascendo.  Ainda que não tivessem um grande passado intelectual, os árabes tinham ânsia de aprender e não se importavam em sentar-se com quem quer que fosse desde que fosse para aprender.  Eles começaram como estudantes e terminaram como professores do mundo, por seis séculos, tempo de duração da dominação omíada.

A sociedade muçulmana. Além dos árabes, que naturalmente formavam o topo da pirâmide social, havia três outras classes no califado: os mawali, ou os árabes não muçulmanos, os dhimmis, ou minorias protegidas, e os escravos. Os cargos mais elevados na administração do califado eram ocupados pelos árabes, mas, com o passar do tempo, os mawali e os dhimmis começaram a galgar postos de mais responsabilidade. Quanto aos escravos, eles vinham de todos os países e nações e passaram a receber um tratamento como nunca havia sido dado anteriormente. Muitos deles alcançaram posições de elevada confiança e grande poder. A Índia chegou a ter uma dinastia escrava. Os mamelucos bahri, assim como os mamelucos burji do Egito e da Síria, eram todos escravos turcos. Vários reinos foram fundados por ex-escravos. Muito embora houvesse essas quatro classes sociais, deve-se dizer que não era um sistema social  rígido como o hindu. Entre os muçulmanos a mobilidade social se concretizava pelo casamento e pelo exercício de cargos mais elevados na administração.  

A condição da mulher. A prática da reclusão feminina foi atenuada durante o período omíada. Mesmo os familiares do Profeta participavam da vida pública. Aisha lutou contra 'Ali na Batalha do Camelo e mais tarde tornou-se a fonte de muitas tradições autênticas do Profeta e muitas vezes era consultada a respeito de assuntos importantes. Fátima, enquanto viveu após a morte do Profeta, participava das discussões do califado. Zainab, sua filha, defendeu corajosamente sua família depois da tragédia de Kerbala contra Obaidullah bin Ziyad e até contra Yazid. Durante o período omíada, a antiga prática persa de reclusão das mulheres era praticada até entre as classes dominantes, como um sinal de distinção, mas os membros das famílias reais participavam de todas as atividades culturais.

Atividades intelectuais e as artes. Os estudos árabes estavam confinados a assuntos teológicos, de história e de medicina.   O vasto conhecimento adquirido depois, foi tomado dos sírios, persas, egípcios, cristãos e judeus. Assim, o início da vida intelectual no período omíada ainda não era muito avançado. A progressão rápida da força muçulmana sobre os três continentes trouxe muitos problemas econômicos, domésticos e sociais, mas os árabes aprenderam   rápido. Primeiro aperfeiçoaram sua gramática, a fim de que o Alcorão pudesse ser ensinado aos povos conquistados. Assim, tiveram que voltar a atenção para a compilação de dicionários e o estudo da linguística. A busca das verdadeiras fontes de muitas tradições do Profeta que tinham começado a circular em grande quantidade, levou a métodos de pesquisa e ao início da historiografia islâmica. O estudo da lei romana que se aplicava aos não muçulmanos conquistados induziu os muçulmanos a formularem sua própria prática jurídica (fiqh). A necessidade de se construir mesquitas e palácios dignos da glória alcançada pelas forças muçulmanas, fez com que os arquitetos estudassem os diversos estilos arquitetônicos, resultando daí a magnífica mesquita  de Jerusalém, em 691 e a grande mesquita omíada de Damasco, em 705. Al-Walid I reconstruiu a mesquita de Medina e alargou e embelezou o Harm-i-Sharif. Ele construiu muitas escolas e hospitais na Síria também. E por toda a borda do deserto os príncipes e nobres construíram esplêndidas mansões, que eram usadas para o descanso.

Especulações religiosas. O contato com judeus e cristãos e o estudo dos filósofos gregos, fez com que surgissem muitas especulações religiosas e muitos grupos surgiram com suas próprias interpretações das doutrinas teológicas. Havia a escola Qadariya, que acreditava na Vontade Livre contra a Escola Jabariya, que se baseava no determinismo e na predestinação. Mais tarde, o Mu'tazila esteve em grande voga. Entre outras coisas, eles sustentavam que o Alcorão não era eterno como Allah, embora os ortodoxos afirmassem que ele tinha existido desde o Começo e que era eterno. A Escola Murjita acreditava na tolerância e dizia que  o pecador  permanecia muçulmano se ele continuasse acreditando em Allah, o Único, e em Mohammad, como Seu servo e Profeta. Os mais intransigentes foram os carijitas que se separaram da causa dos partidários de 'Ali por discordarem da atitude de 'Ali ao aceitar a arbitragem entre ele e Muawiya, uma vez que Muawiya era um rebelado e subordinado do califa eleito.


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